sábado, 27 de fevereiro de 2021

Meu assunto predileto

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Um susto

um olhar de relance

um tremor nas pernas

e um piscar de olhos

Um ferver intenso

um sabor nos lábios

um querer silente

e um dizer calado

Foram gestos abertos

intenções difusas

pensamentos mútuos

num disfarce óbvio

 

Se verdade

não se esconde

a mentira fica exposta

Bem melhor

ser direto

que direto

me perder

Enquanto imagens

pululam

enquanto encantos

sufocam

esperamos o encontro

dos encontros

possíveis

 

De você

falaria por horas

sonharia por dias

Não teria outro tema

nem seriam

outros motes

Quereria bem

por perto

e manteria sempre

à vista

meu assunto predileto

Fevereiro 2021

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Cadê você?

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Cadê você que

não vejo

não encontro

não se mostra

me escapole?

 

Cadê você que

se esconde

se afasta

se proíbe

me inibe?

 

Cadê você que

transpira desdém

que se diz aquém

mas não me deixa partir?

 

Cadê você que

no fundo se protege

no raso se afoga

e da borda observa?

 

Saber de você

seria ouvir o não

compreender o porquê

acatar o não querer

Só faria me entristecer

 

Cadê você?

Vou fingir que

não vi

não encontrei

não entendi

Apenas para

Não dar de cara

com o já perdi

Fevereiro 2021

Poesia não se aprende

 

Por Jânsen Leiros Jr.

É desabafo

é fantasia

e às vezes

é pura ficção

Também pode ser

um bate-papo

uma oração

uma DR imaginária

e necessária

Acontece de ser

um recado

uma declaração

uma satisfação

ou até pedido

de desculpa

Já foi pedido

de casamento

já foi adeus

por covardia

e até registro

de nascimento

Muitos são odes

à alegria

outros ofensas

e rebeldia

Cabem todas as

emoções

bem como todos

os motes

Não há razão

ainda que motivos

e sua lógica

é passional

A poesia brota improvável

Surge tanto da vontade

quanto da falta de

Amores se declaram

desamores se anunciam

pretensões se denunciam

e condições se oferecem

Poesia não se aprende

se faz

Algumas nem mesmo

têm sentido

mas todas têm uma

mesma fonte

Fevereiro 2021

Mentir-se

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Foi-se a inspiração

Indesejada

Afastada

Arrancada à

foice

Foram-se os sonhos

Desfizeram-se ideias

Morreram projetos

Fecharam-se feridas

que nem mesmo existiram

 

Cicatriz invisível

que nem chega a doer

Um sofrer em silêncio

sem lembranças na tela

um filme apagado

de roteiro perdido

Cenário desfeito

atores dispersos

diálogos mudos

orquestra sem som

De volta o deserto

e o campo sem flor

A realidade que se

impõe à arte

A arte insistente

de amar

 

A verdade que

desfaz os amores

quase nunca

afetam os humores

Mas bem posso

pensar invertido!

Quem resiste

a um peito aberto

ou quem se nega

a um amor renegado?

 

Para tudo na vida

há oportuna solução

Até derramar-se

ao caminho os afetos

Talvez fingir

não senti-los

disfarçar não vê-los

ou quem sabe

desejar não tê-los

A arte de mentir-se

para talvez manter-se

Fevereiro 2021

Não espere por mim

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Então é isso

e só isso mesmo

Nada além de zero

ou para além do nada

que se foi

Raso

Pífio

Minguante

Uma poça se muito

 

Nada novo na alma

tudo de novo na vida

Reiterado abandono

solidão rediviva

Sem itens a dividir

sem bens a partilhar

Nem um só bem querer

a lamentar

Triste realidade

de um ciclo finado

e de um tempo

para lá de esgotado

 

Como não aceitar

o óbvio que grita

de dia

e que sussurra

à noite?

Então ponho fim

à história

Concluo os poucos versos

e rascunho nova prosa

Seguirei pendular

e constante

amante incorrigível

Eu vou e volto

só não espere por mim

Fevereiro 2021

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

No silêncio talvez, na distância jamais

 

Por Jânsen Leiros Jr.

O silêncio inibe

e a distância amedronta

O silêncio se pretende

e a distância realiza

Se um causa receio

a outra provoca o medo

Não seria essa

a pretensão?

Se o silêncio escamoteia

os sentidos

a distância camufla

os impulsos

Inibe

Desencoraja

Alerta

 

O silêncio traduz

a vontade

e a distância nos deixa

à vontade

Porque se o silêncio

emudece a alma

a distância nos

cala no abismo

Não há quem

prefira tropeços

 

O silêncio esconde

o medo

e a distância encobre

o pavor

De um passo além

de um ato aquém

de um equívoco a mais

Se o silêncio

salvaguarda

e a distância dá

prudência

quem sem medo

se dispõe a enfrentar?

 

O silêncio faz pensar

e a distância ponderar

O primeiro grita aguarde

e o segundo diz descanse

Se é melhor ouvir o silêncio

melhor ainda é se afastar

da distância

Porque se no silêncio

até cabe talvez

na distância

só cabe jamais

Fevereiro 2021

Apagada

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Pá de cal nas ideias

Fim dos papos sonados

Furado balão de ensaios

Game over

 

Acabou-se sem

nem mesmo ter sido

e implodido o que

sequer se ergueu

Não há passo

adiante

nem acorde a soar

Sequer houve

acordo final

Apenas um susto

inexplicável

uma frustrada

largada queimada

Fogo apagado

cinzas sopradas

chama extinta

 

Palavra engasgada

ecoa silente

vazio pesando

no fundo da alma

Como seria

              poderia

                ficaria

Melhor ficar

por aqui

 

Não é sempre

que finais súbitos

se antecipam

a promissores começos

Paixão desprezada

Luz apagada

Amor natimorto

Fevereiro 2021

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Desperdício

Por Jânsen Leiros Jr.

Dedicado esforço

empenhadas palavras

repensadas ideias

reviradas histórias

Nada sério afinal

 

Quem se importa

quem me nota

quem se entrega

ou quem me leva?

 

Quantas rimas

esquecidas

quantos versos

incompletos

Quanta prosa inacabada uma versão incompleta

 

Flores deixadas à porta

emoções guardadas

no saco

sentidos incertos

confusos

desejos trancados

na alma

 

Um certo sentido

esquecido

uma certa emoção

apagada

A paixão atirada

ao vento

Um amor retirado

do mundo

Desperdício

Fevereiro 2021

Certezas contidas

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Sim foi um susto

uma surpresa total

Muita verdade

para tão pouca realidade

Tanta vontade

para quase nada vivido

Surgido de onde?

Inspirado em que?

Que sentimento é esse

que faz da ausência enredo

e da presença canção?

Me sobram rimas

sobejam palavras

me elevam os sonhos

me atacam sentidos

Vejo você em portas

passando janelas

correndo na rua

deitada na cama

Como queria

você por aqui

Como queria

Como iria

para onde fosse

O jejum não resiste

o amor se renova

o favor se duplica

e a língua destrava

Não há segredos duráveis

Não há ofensas doídas

Só há certezas contidas

de uma vida feliz

Fevereiro 2021

Nada a ser


Por Jânsen Leiros Jr.

De repente o chão

desaparece

a esteira some

e o caminho se desfaz

Nenhum passo

a mais

nenhuma ideia

ao menos

Tudo desconhecido

tudo incerto

nada a esperar

Por onde ir?

Nada como a dúvida

para suscitar

a certeza do fim

enfim

Longe o querer

distante o poder

contente-se com

o que há

ou mesmo com

o pouco que houve

Nada a ver

Nada a ser

Nunca mais

Fevereiro 2021