segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Vida escorrendo


Por Jânsen Leiros Jr

Descontinuando a vida

em solidão persistente

Incômoda

Inclemente

Saudável mas nem por isso

contente


Trabalhos cessados

contas quitadas

amizades zeradas e

familiares nas fotos

Poeira tirada

roupa dobrada

paredes caiadas e

as plantas regadas


Desentupidas as calhas

rebatidos os pregos

aparada a grama e

afiadas as facas

Porão vazio

sótão trancado

panelas ariadas e

louça guardada


Senhas anotadas

documentos arrumados

despedidas enviadas e

agradecimentos explícitos

Embarque encerrado

chuva caindo

vida escorrendo

existência partindo

Agosto 2023

terça-feira, 4 de julho de 2023

Sofro mas finjo

Por Jânsen Leiros Jr.

Sofro

mas finjo

não sentir

Percebo

mas simulo

não entender

Ouço

como quem

não escuta

e vejo

como quem

não enxerga

 

Claro que

sofro

mas disfarço

não doer

Até quero

agindo como

sem querer

 

É o desencontro

entre

real e

verdadeiro

entre

essencial e

aparente

A expressão

da desistência

o despertar

do desamor

 

Pela manhã

ansiedade

à noite

decepção

Com o sol

perspectivas

quando à lua

desilusão

 

Se obsessão

por perfeição

traz por efeito

meus defeitos

compreensão

inesgotável

aversão

cruel

Indignação

perene

insatisfação

atroz

 

Beligerância

insistente

de uma

guerra sem

trégua

Silêncio

inexistente

de uma paz

sossobrada

 

Dias e horas

corridas

de um tempo

sofrido sem

pressa

 

Um martírio

de almas

punidas

desgastadas

condoídas

Lágrimas

prendidas

sorriso amarelo

vida brandida

Julho 2023


quinta-feira, 22 de junho de 2023

Crueldade à queima-roupa

Por Jânsen Leiros Jr.

O tempo passa

nossa jornada avança

o relógio não volta

e a vida se vai

Se esvai pelos

dedos das mãos

Por entre escolhas

atrás de equívocos

após confusões

 

Quanta existência

perdida

quanto desejo

tolhido

Um desamor

fabricado

por cada dor

requentada

Desperdício de

tudo

num dia a dia de

nada

 

Afinal

se os dias se vão

e em vão

devoramos as horas

Segundos

martelam

a parede

e minutos

aumentam a tensão

Hoje

bem menos

que ontem

mas depois

bem pior

que amanhã

 

Economizo lágrimas

disfarçando o pavor

escondendo a tristeza

dissimulando terror

Toda noite um silêncio

por vingança

e na cama um vazio

por castigo

Toda falta que

agora faz

um dia sei que

não fará

Adoraria que

o momento

fosse já

O peito ficando oco

a voz fazendo eco

pensamento deixando

louco

realidade vazando

meu fim

 

Meu choro supõe

confissão

e a alma

suplica emoção

Quem me dera

lembrasse de mim

e que por mim

insurgisse enfim

Mas tanto fez

que por hora

tanto faz

Pois o tanto

que já fiz

ninguém jamais

fará

 

Devaneando valentia

fingida

simulo ousadia

incontida

Liberto a vontade

trancada

gritando com coragem

tardia

Derrube este muro

Se lance no escuro

Refaça o futuro

e apague o passado

Aproveita o presente

que nos resta

pra sempre

 

De medo

estanco

Acordado receio

seu não

No temor da afronta

por exaustivos confrontos

me cubro teimoso

incitando meu corpo

Sucumbo à ilusão

 

Te tocando em

meus sonhos

carinhando em delírios

lamentando a mentira

que encaro ao ocaso

É o resto da sobra

é da xepa do amor

 

É o que temos

e é o que sou

E é o que somos

pelo tudo que tens

Porque ninguém dá

aquilo que não tem

Nem por pena

ou por bondade

Se o abandono é

tudo o que pode

é bem o que não

posso conter

Na verdade

é pura crueldade

e à queima-roupa

Junho 2023

sábado, 27 de maio de 2023

Teu sorriso me basta

Por Jansen Leiros Jr

Como sempre

atrasado

A impressionante arte

de chegar depois

correr atrás

reduzir as perdas

minimizar efeitos


Se me encanto

pela ousadia

me apaixono

pelo sorriso

E pensar que 

já esteve perto

tão presente

tão à mão

ao alcance

Agora nem tentar


Olho uma vez

duas

dez

milhões

Finjo necessidades

minto prioridades

tudo só para

ver de novo

Vale a pena


Um sorriso radiante

contagiante

provocante

que nunca foi

surpresa

Sempre soube

que estava ali

escondido

sufocado

intimidado

Desejoso de fugir

E fugiu

e foi-se

à foice

        de tudo e

        por mim


Agora já era

nunca será

Perdi o bonde

a carruagem

a princesa e

a abóbora

Ainda posso 

ao menos 

contemplar

mas é só

Rever e ver de novo

quantas vezes quiser

Revelado ou escondido

declarado ou sucumbido

por vontade e 

por desejo

Pretendendo 

e preterido

Platônico

verei pelo vidro

debruçado em janelas

que só a nuvem tem


Ninguém jamais

me saberá querendo

ninguém nunca

me flagrará sonhando

Carregarei oculto

mais um doído espinho

mas agora já aprendi

Teu sorriso me basta

Maio 2023

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Tanto faz como tanto fez

Por Jânsen Leiros Jr.

Tanto quis

que tanto fez

e conseguiu

Você me convenceu

- E daí?

Daí que nossa estrada

termina aqui

Para quê seguir

ou por que insistir

no que se sabe

finito

natimorto

ou jamais existido?

 

Esticar uma trilha

forjada

realidade forçada

união fracassada

Mera tortura

instantes a mais

da venda nos olhos

à foice ao pescoço

Rumor de horrores

com rufas

de tambores

Essa morte é clemência

e o fim é direito

respeito e socorro

 

Tanto fez

que você convenceu

Com clareza afirmou

E repetiu

Que nem era para eu

estar por aqui

estar pela vida

Se nem mesmo na minha

muito menos na sua

 

Estou indo

Só não sei o momento

em que sumo

Mas assumo

Gostaria que fosse ontem

preferia que há anos

ou quem sabe a décadas

São muitas as formas de ir

Indo

sumindo

ficando

invisível

Observando

silente

indiferente

 

Agora para mim

tanto faz

como jamais

para mim

tanto fez

Fevereiro 2023