quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Verdades e mentiras


Por Jânsen Leiros Jr.

Muitas verdades

vividas

herdadas

sentidas

 

Uma só mentira

guardada

sofrida

escondida

 

Muitas verdades

flagradas

no peito

indisfarçadas

 

Uma só mentira

apontada

supurada

banida

 

Muitas verdades

cantadas

          por almas

          descobertas

 

Uma só mentira

bandida

armadilha

sincera

 

Muitas verdades

passadas

presente

futuras

 

Uma só mentira

vencida

apagada

esquecida

 

O que importa:

te quero

me desejas

nos amamos

Abril 1994

domingo, 11 de dezembro de 2016

Asas cortadas


Por Jânsen Leiros Jr.

Não é tão simples assim

fazer-se entendido

fingir-se lembrado

sentir-se querido

 

Nem é tão fácil

de fato

perceber o equívoco

de por tolo

ter pretendido

o dia de ser desejado

 

Por todos os ângulos

impossível

de todas as formas

inviável

A alegria de se

entender amado

parece mesmo

inconcebível

 

Como pude me achar

no direito

eu que sempre

requeri-me

correto

de voar como voam

os pássaros

eu que sempre defendi

as gaiolas

 

Água trocada

alpiste soprado

o fundo varrido

em cuidado e rotina

Por grato

um canto aguardado

e por guardado

um sopro sofrido

e as asas cortadas

Sonhos tolhidos

tempo perdido

por medo indevido

Dezembro 2016

Embarque encerrado


Por Jânsen Leiros Jr.

Queixumes tormentos

e opressão

descuido avareza

e tensão

Angústia incômodo

e agito

penúria miséria

e castigo

 

Na mala não faltam

tristezas

na alma o que sobra

é descaso

 

Sentimos sentidos

não ter mais sentido

Razões pretensões

e maus-tratos

Vontade incubada

na veia

verdade jogada

na cara

 

Pretendo rever

ainda hoje

futuro deixado

pra trás

Fazer da viagem

caminho

fazer do repouso

destino

 

Socorro gritado

no escuro

chamada jamais

atendida

Que a vida deixada

no solo

uma insana esperança

no outro

 

Um triste trajeto

atrasado

ao vazio lugar

esquecido

De longe percebo

inegável

calor quentura

e mormaço

 

Para morte indelével

mesmice

para vida embarque

encerrado

Dezembro 2016

Espero atendê-los


Por Jânsen Leiros Jr.

Meus livros me

chamam tratante

meus livros me

pedem atenção

Ou apontam

preguiça infinita

ou me flagram em

esquiva constante

Me acusam

fugir da missão

e trai-los

com outros

amantes

 

Nem eles entendem

meus dias

ainda que

atravessem comigo

as noites

Que dirão os distantes

olhares juízes

e que juízo não fazem

vizinhos algozes?

 

Se na poltrona

vivesse amarrado

e se das letras

viesse meu pão

Quem me dera

viver da escrita

quem me dera

espelhar emoções

Seria bom

viajar pelas rimas

sem ter pés

pregados ao chão

 

Não é fácil prender-se

ao assento

não é simples negar-se

aos pedidos

Com meu tempo

não sou avarento

com o tempo

vicia a cessão

O que faço em excesso

em transbordante medida

não o faço por menos

e não aceito exceção

 

Os livros

um dia

espero atendê-los

A todos

espero até lê-los

Atento

e a tempo

Dezembro 2016

Uma mulher


Por Jânsen Leiros Jr.

Uma mulher tem

poderes

que nem todo

poder a

pode entender

Uma mulher tem

caminhos

que por caminho

algum se pode

prever

 

Uma mulher sempre

diz mais do

que fala

embora fale

muito mais

do que precisa

dizer

Se apresenta com gestos

finos e elegantes

com outros

amplos e alarmantes

Uma mulher fala

com alma e

verdade

ainda que se

pretenda iludir

 

Quando comum

é linda

Quando exuberante

manda mensagem

Quem por tolo

não a entende

ou mesmo não

a quer entender?

E por ser

linda e independente

independentemente

do que diz

se revela e

se insinua

na beleza com

que declara

tudo aquilo que é

 

Tão linda de tudo

desde o seu interior

se derrama frágil

em todo seu esplendor

Seu recado é percebido

Sua mensagem acolhida

Que melhor forma de se

reconhecer querida?

Que melhor forma de se

mostrar mulher?

Outubro 2016

O que não é


Por Jânsen Leiros Jr.

Amor não é concurso

nem prova

ainda que se prove

e se aprove

Amor não se degusta

Se alimenta e se nutre

de gestos e atitudes

quase sempre

disfarçados

 

O amor não tem

razões

                  tem

pulsões

nem é disputa

de virtudes

Não cabe

ainda que muita coisa

caiba no amor

mesmo transbordante

 

Amor é o que

tiver de ser

Se não for assim

amor é que não é

E se amor não for

não resiste ao tempo

Nem mesmo à

chuvas corriqueiras e

ventos passageiros

 

Amor é o que é

e é por ser assim

que o amor acontece

E por mais imprevisível

destemido

E sendo apenas o que é

sempre será

Sem razão e sem porque

Sendo amor e nada mais

Novembro 2016

Ser amigo


Por Jânsen Leiros Jr.

Oi

Tudo bem?

Como vai?

Qual seu nome?

Este é o meu

Eu sou assim

Que bom que gostou

E você?

Aceito assim mesmo

Tenho troco para

cinco minutos de amor

Tem duas horas de

compreensão?

Onde vai?

Companhia?

Meu conselho

 

Quer ser meu amigo?

Dezembro 1983

sábado, 29 de outubro de 2016

Cruzadas


É sempre dia


Por Jânsen Leiros Jr.
Não havia esperança

Não restaram súplicas

Se pedidos escondidos

eram mudos

Inconscientes e desprovidos

da pretensão de atendidos

Já era tarde

 

Não passava pela mente

qualquer lembrança

nem surgia na alma

qualquer vontade

Só a entrega à mesmice

do descaso e o descuido

Desistência

Já vivia o meu ocaso

 

Era um dia assim

e outro igual

Nada novo

Só a promessa

de tudo ser igual

a tudo que sempre foi

A garantia de se ter

sempre todo dia

o mesmo desamor

Para qualquer coisa

estava tarde

 

Mas numa tarde

quando muito tarde

como sol da manhã

cintilou o olhar

Novos sons

novos brilhos

novas cores

Muitas falas

que ouvidas

repetidas

 

Ventavam de lábios

Caprichosos

envolventes

e admiráveis

Não se notou

o tempo

não se contaram

as horas

Já nem era assim

tão tarde

E o relógio até

retrocedeu

A agenda travou

 

O coração pulou

de susto e

reviveu no tranco

Enxergou-se a vida

pela janela

daquela alma

Redescobriu-se prazer

na rotina a cumprir

Renovados desejos

remoçados sentidos

nunca é tarde

para realizar

o que negara sonhar

Quem se importa

com a tarde?

É sempre dia

enquanto a noite

não chegar

Outubro 2016

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Atalhos só atrasam


Por Jânsen Leiros Jr.

Como nunca antes

como tudo ontem

quase sempre inerte

explodiu enfim

Como pode um

esquecido e velho

renovado e bom

reviver da morte

pra viver seu fim?

 

Sempre calculei

sumir

sem chegar a ver

partir

sem sequer sentir

chorar

por perder o riso

morrer

por querer viver

Mas o renovo surgiu

De certo errou

de tempo e de espaço

ou acertou em cheio

sem saber em quê

 

Ambos ocupados

e reflexivos

ambos num susto

sacudidos

Não se sabe a razão

do fato

só conheço a emoção

do afeto

que não pequena

nem menor

é maior do que

aparenta

 

Camuflada

por oportuna

repensada

por flagrantes

desconsertos e descaminhos

ameaça

Escondida no retrato

cheira forte

à podridão

Melhor é se entregar

e de quebra descansar

Porque vontades minhas

por Vontade d’Ele

bem melhor

é a rendição

Porque atalhos

só atrasam

parecem curtos mas

são todos longos

 

No caminho

apressado

por inquietas

passadas

meu passeio

azedou

Há que se aprender

a esperança

espero até que

aprendam todos

E espero que

aprenda eu

Suplico

aprendamos nós

Outubro 2016