sábado, 5 de junho de 2021

Foi engano?

 

Por Jânsen Leiros Jr.

E quando tudo

enfim acabar

não serei

mais do que

fotos cortadas

roupas rasgadas

e um nome

proibido e riscado

 

Não passarei de

cartas jogadas no lixo

poesias atiradas ao vento

presentes levados ao fogo

e lembranças deixadas

para trás

 

Serei como se

não tivesse sido

Como se nada tivesse

existido

Um acontecimento

jamais acontecido

Esquecimento forjado

de um passado banido

 

Não passarei de

um passante

um fracasso

um errante

Um

- Lamento

  foi engano

Janeiro 1996

Me demites

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Bastaria um aceno

um gesto

uma expressão

de sincera pretensão

Um mero flagrante

de emoção

Um desprendido

ato de perdão

 

Não precisariam

grandes arroubos

largos gestuais

ou palavras gritadas

em alto e bom som

Nem seria isso

de muito bom tom

 

Bastaria um olhar

fugidio

um sorriso contido

um sussurro bendito

e um arrepio na alma

Um desejo insinuante

Qualquer coisa que

dissesse vem

 

E eu não me faria

difícil

não fingiria

desentendido

Muito menos esquecido

pelo que sempre esperei

Vem

Fica

Para sempre

Ainda que o

sempre

nunca

deva ser

prometido


Ilusão pressentida

Inabalável

indiferente e

inflexível

me despedes

esta noite

como me demites

todos os dias

Junho 2021

terça-feira, 25 de maio de 2021

Incessante

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Vamos mexer

na ferida

retirar a casca

e repetir a dose

Vamos aumentar

a dor

relembrar o mal

reviver o feito

e suscitar o tédio

É preciso piorar

a culpa

encharcar os olhos

e rasgar o peito

 

Vamos ampliar

as perdas

reforçar o estrago

e enterrar o punhal

Vamos atrair

com a esquerda

esmagar na direita

e evitar o troco

Esperemos por abrir

a guarda

desferir o golpe

e garantir o pranto

 

Só não podemos

deixar morrer

permitir partir

escapar do trauma

e recobrar vigor

Seria o fim da

maldade alegre

do prazer venal

e da vingança a frio

 

A narrativa distorcida

é como música incessante

É a verdade que

interessa

e a realidade que

convém

Pois de argumentos

já caducos

se alimentam mágoas

se preservam ofensas

e se legitimam mentiras

 

A tormenta não

pode passar

e o caos não

pode acabar

Para que

reprovação nas falas

e manipulação das massas

mantenham sofrimento imposto

me iluminem os lábios

e me saciem a alma

Maio 2021

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Oderges

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Meu segredo guardado

                        sofrido

                        encolhido

Minha emoção incontida

escondida no peito

 

Meu pecado

flagrado nos olhos

Minha vontade

ardente nos dedos

Uma atração

recolhida ao leito

Meu desejo

trancado na alma

 

Só à noite te beijo

em sonhos

em alguns até invado

teu corpo

Serás sempre meu segredo

                                  secreto

apagado

destruído

e eterno

 

Minha paixão

proibida ou não

Meu delicado prazer abstrato

inconfessável amor

para sempre disfarçado

Março 1994

Indigna ação?

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Dignidade rima com

serenidade

maturidade

verdade

Nem sempre chega

com a idade

 

Coragem rima com

mensagem

passagem

viagem

que se inicia na

decolagem

 

Ação rima com

afeição

atenção

consideração

que não aceita

traição

 

Concluir rima com

fugir

sumir

partir

que jamais acontece

sem as outras três

 

Indigna ação?

Outubro 1996

domingo, 16 de maio de 2021

O que me faz?

 

Por Jânsen Leiros Jr.

O que me faz

viver bem?

O que me faz

viver?

O que me faz?

Como faço para saber

o que devo fazer?

Como devo fazer

para saber?

Alguém de alguma forma

alguém de algum lugar

alguém que eu não sei quem

deve saber o que

é que eu faço aqui

Ou será que nem aqui estou?

E assim eu sequer sou

Mas se penso

logo insisto

quer motivos quer razões

quer sentido ou sensações

tudo à volta quer falar

Só eu que não entendo

Gritam todos e não escuto

Se não ouço ou

se não quero

Quem sabe?

 

O caminho suspeito longo

o trabalho percebo grande

Dúvidas crescentes

riscos iminentes

Há quem possa

ser descrente

Então me calo e fecho os olhos

os ouvidos por perdidos

Um saber tão perigoso

melhor sequer querer saber

Mas inquieto não sossego

- Voltarei amanhã!

Maio 2015


sábado, 8 de maio de 2021

Mãe à distância

 

Por Jânsen Leiros Jr.

A mãe de alguém

Em um dia festivo

recebe presente

Talvez alguns

Muitos

Quem sabe?

A minha é

“as” são

 

E em vez de receber

doa

Doam-se

E por mais que doa

seguem dando-se

convicta

 

Mãe é coisa de

maternidade

e não de quem

pariu

Seja a santa

ou seja a outra

mãe é a parte

sagrada de todo

caráter

- o que minha mãe

vai pensar?

 

Cada mãe nasce

quando nasce

cada filho

E a minha não

é a sua

ainda que venhamos

da mesma madre

Cuide da sua e

eu cuido da minha

E não espere de mim

ser filho em seu lugar

Tenho uma mãe

pra criar

- o que será quando

crescer?

 

Nossas disputas

          derrotas

          e vitórias

são batalhas entre 

o zelo e a liberdade

Para o primeiro

um olhar de desprezo

e para tudo o mais

ansiedade

Soubesse antes

que ter vontade dói

sucumbiria feliz

ao cuidado

Mas agora quem

nos impede ir?

 

Por isso que mãe é bom

no singular ou

no plural

E eu tive muita sorte

Meus filhos também

Muitas em uma e

uma em muitas

 

Eu quero a minha

perturbando e

me fazendo rir

Me chamando atenção

e me mandando piadas

Pior será quando não

mais puder rir

de sua desnecessária

preocupação

 

Declarar-se

um só dia

um filho feliz

é pouco

Por isso

faço toda manhã

Ou deveria

Um dia elas vão embora

E para que não sobrem

apenas isoladas lembranças

nos sejam intensas

constantes presenças

Mesmo à distância

Maio 2021

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Malas prontas

 

Por Jânsen Leiros Jr.

É o final de tudo

O fim das coisas comuns

         normais

      e naturais

Do olhar e

do sonhar

do buscar e

do esperar

Não haverá mais

vontade

Sequer a de ser

ou muito menos

a de ter

O melhor mesmo

é esquecer

na força e no tempo

deixar apodrecer

Pensamentos confusos

intenções às claras

É flagrante o cheiro

da conspiração

 

Ou quem sabe

apenas o fim

da inspiração

Saída desonrosa

amargura à porta

tudo o que se quer

é partir

Daí, daqui ou de

qualquer lugar

Certezas ao chão

suspeitas ao vento

e o nome na lama

Folhas em branco

Canetas quebradas

e luzes no escuro

Encerrada alegria e

sucumbido prazer

Cessadas as rimas

em velhos sabores

relva pesada

ao passar dos tratores

Não há mais sorrisos

nada mais é engraçado

Entrego meus pontos

e deponho minhas vírgulas

Malas prontas sem

qualquer poesia

Fim da lida

E deixarei para morrer

ao voltar pra casa

Maio 2021

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Um fim na criação

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Criação ativa

narrativa viva

que se ocupa

enfim

a explicar a

a vida

 

Uma porção

de crentes

outra maior

descrente

Que foge

da verdade

muito mais

relevante

 

Que Deus

criou o mundo

não importa como

garantindo

estar junto

não importa onde

Junho 2018

Me arrependo

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Olhando para trás

do que lamentar?

Dificuldades passadas

oportunidades perdidas

futuro roubado?

 

Não me arrependo

das portas abertas

nem tão pouco 

fechadas

 

Não lamento

decisões erradas

caminhos falsos

Nem atos nem fatos

 

São todos sintomas

loucuras e devaneios

frutos da inquietação

 

Incoerência?

Talvez

 

Fugi de Deus

e isso lamento

Melhor

Me arrependo

Abril 1994

sábado, 3 de abril de 2021

É isso que encanta

 

Por Jânsen Leiros Jr.

O tempo passou

é verdade

mas foi generoso

           professor

           inspirador

Te fez melhor

te construiu

    reconstruiu

e me entregou

Devolveu o que

não tinha

e repôs o que

não perdera

Um olhar de menina

no frescor das manhãs

Olhando distante

mantendo esperanças

que nem o tempo

degola

Não há preocupações

que lhe resistam

a confiança

Nem desafios

que lhe enfrentem

a coragem

 

Não sei se é isso

que encanta

não sei se é isso

que cativa

Toda foto passada

cada momento lembrado

desperta um gigante

que pretende saltar

 repensar

o caminho

as companhias

e um jeito definitivo

de retornar a viver

Abril 2021