domingo, 21 de março de 2021

Sem soro e sem vela

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Seu descaso

é flagrante

e seu veneno

sentido

Seu desprezo

é visível

e seu desdém

é letal

 

Sua alma

me odeia

seu corpo

me tem asco

seus olhos

me fulminam

sua essência

me vomita

 

Se pudesse

mataria

se fizesse

negaria

se fugisse

morreria

e se pedisse

eu faria

 

Sinto tanto

seu ódio

que faz uso

por ópio

do juízo e

da tortura

com prazer

e crueldade

 

Escurecem-me

os olhos

desvanecem

meus sonhos

desordenam

as batidas

me paralisam

reflexos

 

O que de mais

pode ser pior

é o que

de menos percebi

de nós

Caiu a ficha

e quebrei a cara

E já foi tarde

 

Mordido

e mortalmente

sem soro

e sem vela

sinto muito

Não pretendo sofrer

não consigo correr

e por mais

assustador

nem planejo

partir

Março 2021

sábado, 20 de março de 2021

Nunca mais me expor

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Guardar o peito

os olhares

as orelhas e

os impulsos

Segurar a onda

fugir da correnteza

evitar a cachoeira e

escapar da avalanche

Não me permitir

transparecer

evitar me revelar

encobrir sensações e

dissimular emoções

Disfarçar os sentidos

restaurar as visões

unificar as versões e

descascar as lições

Esquecer as intrigas

evitar tropeções

contornar armadilhas e

e encontrar a saída

Jamais me deixar levar

aprender a me reconduzir

abandonar banais confissões e

nunca mais me expor

Deixar de ser tolo

largar meu cordel de ilusões

perder minhas peias e

abandonar impróprias razões

Março 2021

domingo, 14 de março de 2021

Jamais me corrijo

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Foi muito

por muito pouco

ou quase nada

Foi menos

do que podia

podendo ao menos

ter sido bom

E foi

Mas foi-se

e por muito menos

que o imaginado

 

Falas duras

e acaloradas

Falas mansas

impregnadas

Falas finais

e bloqueadas

Outro fim mal

começado

A verdade nunca

importou

O argumento

não sustentou

O que se queria

era o fim

e foi

ainda que negado

 

Porque textos

podem maquiar

e versos bem escritos

podem encantar

mas as verdades

estão nas entrelinhas

         nas pausas

         nos tons

As velhas respostas

sempre dadas

às mesmas perguntas

nunca feitas

Foi pouco

mas foi na conta

Imagine uma estrada

             algumas jornadas

            uma vida

Quem sabe

não fosse a morte?

 

Voltas finitas

curso encerrado

ciclos findados

Tudo se pertence

e nada se completa

Tudo se fala

mas não se entende

Todos se escutam

mas ninguém se interessa

Por que nunca

me assusto?

Por que sempre

me rendo?

Por que jamais

me corrijo? 

Março 2021

sexta-feira, 12 de março de 2021

Vai ter prorrogação

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Hoje perco

por pouco tempo

aquilo que ganhamos

para todo sempre

“autoriza o árbitro”

 

Solícito

amigo e

prestativo

parceiro de

risos felizes

foi companheiro de

horas difíceis

“é falta!”

Você fará muita

 

A meu favor

jamais houve

bola perdida

Parceria que

forjou-nos

amigos

“Vamos pro jogo”

 

Adiado nosso

encontro

em postergada

celebração

você saiu na frente

mas de forma irregular

“pode isso seu juiz?”

 

Expulsas as resenhas

e os assuntos inacabados

as despedidas intermináveis

e as temáticas insistentes

Quais assuntos?

Irrelevante

Tudo não passava

de pretexto

Um jogo qualquer

de bom humor

garantido

 

Claro que jogamos

nossos clássicos

e não nos faltaram

provocações

Muita bola dividida

Rusgas enxarcadas

de carinho

e discussões repletas

de bem querer

“É pênalti!”

 

Se o Fla x Flu do Nelson

precedeu à criação

nossa amizade resistirá

a esse apito final

“Terminou?”

Que nada!

Pode esperar amigão

e nem se iluda com o placar

Essa nossa história

aqui ou além

como sempre

vai ter prorrogação

Março 2021


quarta-feira, 10 de março de 2021

Paixão repentina

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Se o olhar surpreende

sua cor faz perder-se

Surpresa?

Espanto?

Encantamento

A voz firme e bela

com matizes de

aquarela

a mente decidida

tem requintes

de ousadia

Seu coração vigoroso

não levanta muros

ou aceita gaiolas

Nada o controla

 

Nada a importa

neste instante

em que se gravam

lembranças

De um jeito

ou do mesmo

é difícil tirar os olhos

            esconder os fatos

            e escapar dos lábios

São perguntas provocantes

com ideias insufladas

Olhares que se cruzam

e cortinas que se fecham

 

Falam-se pouco

ou quase nada

Não há pistas

só mesmo ideias

Inquietude é tudo

que resiste

e reside no ar

um suspense

Um sorriso farto

sem destino

um carinho doce

por distante

É uma vontade louca

que não se manca

um desejo tolo

de se entregar

 

Os sinos tocam

a bomba explode

e a sirene grita

Nada acontece

Falam a mortos

ensurdecem os vivos

e incomodam quem dorme

Um apelo patético

chamando atenção

para a verdade

inconteste

de uma paixão

repentinaMarço 2021

domingo, 7 de março de 2021

Prenúncios

 

Por Jânsen Leiros Jr.

O que é isso

e que olhar é esse

que me enxerga

de longe

me percebe

à distância e

vem do desconhecido?

 

Que sentimento

é esse

que nos estremece

as entranhas

nos arromba

as comportas

e que nos une

apesar dos

quilômetros?

 

Que empatia

é essa

que não nos

respeita os muros

não reedita

as farsas

e que nos flagra

únicos

ainda que distintos?

 

Que maluquice

é essa

que me sussurra

afetos

que me anuncia

amores

que prenuncia

futuros

e não me deixa

partir?

 

O que é isso

que não queremos

que vá

que não deixamos

sumir

e nem nos deixa

dormir?

 

O que é isso

não sei

não sabes

não sabemos

Mas sentimos

que não passa

e que nem

deixaremos passar

Março 2021

terça-feira, 2 de março de 2021

Meu velho

 

Por Jânsen Leiros Jr.

É velho

Teimoso

Ranheta

Implicante

Cheiroso

sempre

Velho

Briguento

Amoroso

Generoso

Cuidadoso

e irritante

Velho

Impaciente

Resmungão

Companheiro

Presente

e desobediente

Quando salvo

se arriscava

Se cuidado

reagia

 

Fazem falta

seus horários

suas falas

e manias

Velho

eterno

metódico

imprevisível

Tão novo

quanto nova

será a vida

adiante

Meu velho

fujão

Esqueceu

de nos ensinar

a como viver

sem você

Março 2021

Em homenagem ao Juara

A vida era melhor com você