segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Inúteis

 Por Jânsen Leiros Jr.

Somos contáveis

somos números

Eu sou número pequeno

talvez redondo

bem menos que inteiro

Somos o que de nós

se utilizam

somos utilidade

e se não úteis

descartáveis

Somos o número

que entregamos

o resultado que fazemos

a vida que proporcionamos

E se nada disso

nada

Sou a cor que esmaeceu

o tempo que passou

a vida que vazou

e o relógio que parou

Como incomoda passar

da validade

sem ter colhido

o fruto de valor

não percebido

Insanidade

burrice

invalidade

Sem utilidade

a noite acontece

sem validade

o sol escurece

Sem capacidade

a vida escapa

e sem entendimento

os dias encurtam

Eu quisera ser útil

e me flagrei fútil

Tive sonhos e ideias

em milhares de dias

inúteis

Se onde há fogo

há fumaça

a fumaça se dispersa

porque o fogo se apagou

Dezembro 2021

Pelo ralo

                                                                                             Por Jânsen Leiros Jr.

Abandono

desimportância

irrelevância e

desprezo

Tudo intensamente

vivido

com sequelas doloridas

as mais vívidas

 

Peito rasgado e

ferido

ombro pesado e

doído

É como ter deixado

em vida

a vida

foi como ser deixado

à morte

como oferta

Olho no olho

um flerte

uma piscada

e a sedução completa

 

Não que a queira

por perto

mas parece que

inevitável

vem

Sintomas pelo corpo

dores de emoção

Já nem sei

o que é clínico

ou o que é mera

sugestão

 

O sono não chega

a sanidade se vai

Nem um afago

em si mesmo

nem um carinho

a dois

A insônia se abanca

e o cansaço rivaliza

Ora pestanejo

moído

ora desperto

assustado

Entre um sufoco

e outro

como um sem fôlego

a mais

o medo assombra

meus sonhos

e a confiança foge

pro ralo

Janeiro 2022