terça-feira, 22 de abril de 2025

Insuportável Suporte

Por Jânsen Leiros Jr.

Como acabou

o que nunca existiu?

Em que ofendeu

livrar-se do que

jamais desejou?

 

Vai

Sai

Some

Morre

E agora que

fui

sai

sumi

morri

se aborrece?

Será que queria

sem querer

será que dizia

por dizer

 

Como suspeitar o paradoxo?

Como distinguir incoerência?

Porque se ficasse

humilhava

se tentasse

mordia

se buscasse

fugia

e se tocasse

matava

 

Agora que fui

quer que volte

agora que soltei

quer que pegue

agora que saltei

quer que espere

agora que voei

quer que eu caia

Já que fui e

ainda sou

Insuportável!

Suporte

a ausência

que tanto

quis querer

Abril 2025

Apegada


 Por Jânsen Leiros Jr.

Eu pensava

ter sumido

acreditava

ultrapassada

esquecida

abandonada

 

Eu jurava

ter vencido

confiava

superada

esvaziada

enterrada

 

Iludido ou

enganado

imbecil ou

idiota

otimista ou

mentiroso

sonhador

inveterado

 

Não voltou

pois nunca foi

nem assombrou

pois não morreu

Apegada

não partiu

resoluta

se firmou

 

Ela vem

sem eu chamar

senta

sem eu convidar

toma lugar

em minha cama

me abraça

sem eu pedir

 

Solidão é

conhecida

amizade de

longa data

Fingiu

abandonar-me

Mas vingou-se

persistindo

Não me larga

não me deixa

pega a deixa

Vaza

Abril 2025

Arranca-me daqui

Por Jânsen Leiros Jr.

Todos os dias

meus últimos dias

uma coisa

peço a Deus

entre duas

 

Arrancar-me daqui

vivo

ou levar-me de vez

morto

Mas que não

me castigue

deixando-me aqui

 

Já não há

forças para resistir

nem desejo

para existir

Fazia está a

forca para

se desistir

mas a covardia

não me deixa agir

ou a esperança

que disfarçada

a resistência

 

A verdade

é uma realidade

algoz

uma sanha

atroz

A vontade de sumir

é tão grande

quanto o desejo fugir

 

De todo jeito

não há

como se doar

naquilo que

não se tem

O destilar do veneno

nosso de cada dia

é entrega última

de quem faz

o que pode

e dá o que tem

 

Só fico porque

não posso

e persisto porque

não tenho

É rua ou cova

e a nudez me conforta

 

Minha vergonha

meu espinho

minha dor

Meu apagar diário

pouco a pouco

até o fim

Abril 2025