segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Fim do Recomeço


Por Jânsen Leiros Jr.

Recomeçou o fim

Só eu sonhei

Pensei

que fosse nosso

o desejo

Que fosse nosso

o anseio

eu sonhei

Usurpei

 

Acreditei que revivia

Que merecia de volta

a força que me faz

Acordar

Lutar

Vencer

Vibrar

Minha crença idiota

 

Desculpas

sem culpas

A culpa é toda minha

Só minha

 

Entendi como promessa

um beijo sem compromisso

Entendi por confissões

evasivas e o silêncio

Era tudo imaginação

solitária confusão

 

Um “oi” mais simples

que um tchau

espetacular “cara-de-pau”

Nem eu te ligo

nem você me telefona

Um desencontro

final afinal

propositalmente ocasional

 

Desejei só

Planejei só

Sonhei só

E acordei só

 

Porque quis

Porque me entreguei

Porque amei

Quem mandou?

Se mandou

 

Mas pediu

Meu coração pediu descanso

Meu corpo pediu sossego

Meus olhos pediram as lágrimas

Meus lábios te pedem perdão

 

Por te desejar tanto

Por te querer minha

Por me pretender teu

Por te querer sem permissão

Abril 1994

sábado, 27 de agosto de 2016

Reencontro


Por Jânsen Leiros Jr.

Onde mais se procura

nem sempre se acha

Onde mais se vasculha

é onde não se encontra

Tanto o que não se

perdeu

quanto o que

sequer se pensou

possuir

 

Onde se descobre

a felicidade

quase nunca

se consegue ficar

fincar estacas

guardar lugar

jamais partir

Inquietante impotência

aborrecida incompetência

 

Quando se descobre

o que se quer

quer-se pra sempre

encoberto

exclusivo

Aos demais desconhecido

Ilusória vantagem

de flagrante egoísmo

 

Quando a vida se apresenta

desnuda e adequada

enfeite e fantasia

já não servem pra nada

Sequer satisfaz

alegoria qualquer

 

Se um vento

nos afastou

e separados acreditou

nos manter

por perto

reteve a certeza

de que um dia

iria voltar

Jamais serviu

fingir sonhar

 

Num outro estágio

da vida

passada de todo

a agonia

a sabedoria enfim

em mim

E agora que nos

reencontramos

não podemos

jamais nos perder

data desconhecida

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Amor por conveniência

Por Jânsen Leiros Jr.

Por sutil conveniência

            convivência insana

Obrigada ou

premida

flagrante

despida

 

Sem qualquer

emoção profunda

arrasada afunda

sem brilho e

sem cor

Nem dor

        Calor

nem pensar


Presente indisfarçável

só o pesar

de encontrar

um dia sim

e outro também

a mesma cara

insuportável

do outro

 

Por conveniência tola

      insistência estúpida

desfaz-se da vida

por demais ausente

Aceite

cassete

foi o que sobrou


Por que se atura

essa morte tão viva

e por que se acata

essa falácia letal

 

Porque por conveniência fria

                 impaciência à parte

melhor parece

um não amar

acomodado

que um amar

sem ser amado

Dezembro 1994

domingo, 21 de agosto de 2016

Prenúncio de abandono


Por Jânsen Leiros Jr.

Uma mesa de madeira

uma cadeira de pregos

Chopp enquanto espero

muitos chopps

e tamanha espera

Várias mesas ouvintes

muitas cadeiras falantes

São sorrisos e olhares

piscadas e convites

 

Telefone à mão

sem mensagem ou

ligação

São perguntas sem

respostas

frustrando minhas

apostas

É uma espera longa

                    fútil

                    descabida

De todas a maior

Sempre me parece maior

 

Não há quem ligue

nem sequer apareça

Ninguém responde

e surge a questão

O que fiz para

merecer?

Mais sorrisos e olhares

mais convites

As pernas vacilam

e os olhos reviram

Impaciência ou

evidência?

Uma espera inglória

prenúncio de abandono

 

Se ainda

pretende chegar

ouça meu grito

meu chamado

Isso é quase um

desabafo

Observe o tempo

e seu fim

logo aí

Não demore

nem suma

O que peço

é que me assuma

Abril 1994

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Falta de pai pra filha


Por Jânsen Leiros Jr.
Sinto muito tua falta
falta faz-me tua presença
É presente tua ausência
É saudade o que sinto

Pra cada canto que olho
e não vejo
enxergo a distância que
me faz perceber
Não vejo a hora de poder
te olhar

Tanta coisa pra dizer
que nem quero falar
Prefiro ouvir teus segredos
                            lamentos
                            momentos
                            bons tempos

Com quatro ou vinte e quatro
serás sempre menina de colo
E ele será sempre seu
Exclusivo 
compartilhado
De fato e mais que direito
Como tudo sempre entre nós
de pai pra filha
Outubro 2013

Solidão se conquista


Por Jânsen Leiros Jr.

Solidão se aprende

eu faço o curso

Sempre atento e dedicado

sou aluno esforçado

Só não resisto a uma rima

Um brincalhão solitário

 

Solidão se fabrica

e eu produzo a minha

Evitando aborrecimento

como convite ao isolamento

Insisto teimoso com a rima

Poeta caduco e mediano

 

Tenho a solidão

bem presente

como quem jamais

abandona um amigo

Se por descuido

me flagra contente

apressada me crava

seus dentes

Rima que de

tão óbvia

displicente

 

Minha solidão é ativa

Incansável me faz trabalhar

Se falando não

consigo me ouvir

se calada até

me atrevo pensar

Consegui fugir da rima

melhorando a autoestima

Mas sabe que dessa

eu gostei?

 

Solidão se conquista

Eu bem que lutei pela minha

Quebrei espelhos e

sumi com os cacos

Caí da cama e

desci do muro

Mudei de rumo e

me livrei da rima

 

Solidão se aprende

e completei meu curso

Persistente e determinado

Graduado

Sozinho

por fim fiquei

A rima?

Jamais abandonei

data desconhecida

Escolhas


Por Jânsen Leiros Jr.

Sempre há escolhas

Sempre escolhemos

Mesmo quando não

escolhemos

ou nos encolhemos

Nos escondemos

atrás de escolhas

que fingimos nunca

ter feito

Fuga sem efeito

 

Defeito vosso

Defeito nosso

Defeito meu

 

Minha escolha

sendo escolha

culpa minha

sem defesa

 

Timidez

Covardia

Insensatez

Que escolha?

Setembro 2006

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Primeiro Dia dos Pais sem Edu


Por Jânsen Leiros Jr.

Ah!

Se você me pudesse ouvir

e se você pudesse falar

Eu sei que escutaria

sem palavras o meu amor

E me responderia

apenas olhando

 dizendo

ainda que

lábios cerrados

 

Eu sei o que você sentia

e você sabia o que eu queria

Nos amávamos sem palavras

e nos dizíamos sempre assim

 

Nesse primeiro dia

dos pais sem você

o mais duro de todos

que virão

quero dizer sem

você escutar

o quanto te amarei

para sempre

e o quanto serás eterno

para mim

Um filho amado

e muito

Contato entre todos

Desejado como os outros

Lembrado junto deles

Agosto de 2006

Escrito para Eduardo

O primeiro Dia dos Pais sem ele