sábado, 21 de dezembro de 2019

Justiça prescrita


Por Jânsen Leiros Jr.
Com o tempo
o pecado é encoberto
o delito esquecido
e o malfeito escondido

Com o tempo
os processos se acabam
seus textos se perdem
e as provas se vão

Com o tempo
a vontade esmorece
o vigor desvanece
e o perdão acontece

Com o tempo
os motivos deixados
as razões confundidas
e os prazos vencidos

Com o tempo
a sentença é arquivada
a vítima enterrada
e a justiça prescrita
Dezembro 2019

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Paixão renovada


Por Jânsen Leiros Jr.
Como não amar
de primeira
De cara pro vento
de peito aberto
sem reservas e medos
Como não querer
por perto
como não pensar à frente
por ele
por eles
por nós
Como não lhe querer o melhor

Mesmo chegando depressa
sem mesmo ter sido
aguardado
chegou ocupando espaços
fechados de caso pensado
Não há muro que
resista ao amor
E com essa paixão renovada
por essa alegria incontida
retorno depressa pra vida
desistindo da espera do fim
Dezembro 2019

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Sequer calor


Por Jânsen Leiros Jr.
Agradeço as doses diárias
de desprezo e desamor
Obrigado pelo ambiente
perene de vazio e
impertinência
Uma coisa é não conseguir
fazer melhor
Outra é preferir
oferecer o pior
Se apenas desventuras
se declara enxergar
cuidado e dedicação
jamais foram contados
De nada valeram
apesar do custo
- Valor é coisa que se
atribui
Há quem receba
como há quem repudie
Uns reclamam do esterco
outros agradecem o cavalo

A leveza está sempre
no olhar de quem se doa
tendo o céu por testemunha
e as lágrimas por recordação
Dar-se é escolha de amor
Quem sabe um dia
se perceba
ou no vazio da noite
se reconheça
que era bom
estar por perto
mesmo quando
sonhava longe
A vida que não se escolhe
jamais causa tristezas
Devaneios coloridos
de injusta especulação
Mas de que adiantaria
percepção tardia
após cotidiana sangria?
No final de tudo
insofismável condição
Só é possível dar
aquilo que se tem
Uns
amor
Outros
sequer calor
Dezembro 2019

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Pai mais uma vez


Por Jânsen Leiros Jr.
Quem nunca amou
à primeira vista
jamais foi pai
nem menos avô
Sentimento latente
que por meses gestado
no peito apertado
sonhado na alma
e encantado no olhar
- Ele chegou!
Segurar nos braços
alertar cuidados
e ensinar bons tratos
Instruções incansáveis
ao pai recém-nascido

Um orgulho tomado
de assalto
percebido no susto
aprendido
Reconhecido legado
mantido
nunca sequer
pretendido

Que amor irresistível
e que paixão inquietante
Alegria permanente
que desconhece circunstâncias
Ser avô é ser melhor
e muito mais do que
se foi
Outro instante desta vida
nova etapa no caminho
Outra fase neste jogo
e um jeito novo de olhar
Um espelho generoso
que desculpa os defeitos
O seu
o meu
o nosso

Ser avô é ter chance de acertar
sem temer qualquer risco de errar
Direito negado a novatos
concedido aos auspícios do tempo
Ser avô é renovar esperanças
reaprender a brincar
é voltar a sorrir
Ser avô é ser pai mais uma vez
sem jamais negar-se ao posto

ou jamais deixar de sê-lo
Dezembro 2019
(por ocasião do nascimento
de Gregório, meu neto)

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Por conta do fim


Por Jânsen Leiros Jr.
Não é nova
a ideia
Já tem tempo
e muito
De que tudo
em todo
e para tudo
há um tempo
E se para tudo
há tempo
todo tempo tem
começo
meio
fim
Para tudo
há um fim
Custe o tanto
que custar
ou mesmo
o custo que doer
ou toda
a dor que se
sofrer
Todo custo
toda dor
e sofrimento
tem seu fim
E acaba
e acabou
Fim da linha
do caminho e
do descaminho
Somente o amor
jamais tem fim
Vou embora amando
embora o amor
por conta do fim
por causa da dor 
Novembro 2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Jamais relevante


Por Jânsen Leiros Jr.
Toda relevância
tem seu preço
e toda evidência
seu fim
As ideias diluídas
por anos
aos poucos
desfazem
ao vento
Não fica
uma pedra sobre outra
nem um ponto
sobre vírgula qualquer
Por pouco
persistem as rimas
mas logo igualmente
se vão
A vida é fumaça
perdida
sua estrada
uma trilha
esquecida
Mais um pouco
e a memória se vai
outro tanto
e lembranças também

Quem pensa ter tido
uma coisa
quem acredita
ter sido alguém
delira de ilusão
esquisita
se sustenta
quem sabe
em quê
Insignificância
na vida é de graça
e inconveniência
existente desgraça
Confrontante
realidade imposta
de delirante verdade
insolente
Em nada jamais
relevante
Novembro 2019

Quem desamou


Por Jânsen Leiros Jr.
O que não quero
é o que mais tenho
e o que não busco
é só o que encontro
Fico apenas com as sobras
e o que sobra é estar só
tudo é fato para todos
mas para mim se faz pior
Realidades difusas
verdades mentidas
Ilusões palpáveis
Um jeito obscuro de tentar
ser mais claro
O tempo se acaba
e me acabo esticando
Se nunca é tarde para
tentar recomeços
por tropeços da vida
já é tarde demais
Tudo feito é sempre nada
e nada há que satisfaça
Gratidão não sei por que
e por consolo tenho você
Meu estorvo exclusivo
meu atraso de vida
meu engodo letal
meu hein
e meu mal

Como eu queria sumir
já que não posso assumir
talvez tentasse fugir
quem sabe ao menos fingir
Pode ser que partindo
de mim
eu consiga partir
de você
Pois se tanto custou
para entrar
por que nem de graça
consegue sair?
É preciso aceitar
que acabou
cobertor curto
que o tempo encolheu
Não soubemos andar
lado a lado
persistente
vivência acabada
Sufocante para
quem desamou
torturante para
quem desamado
Novembro 2019

A chama final


Por Jânsen Leiros Jr.
Um canto a ser esquecido
abandonado num canto
qualquer
Um canto calado na alma
silenciado no medo da vida
O ser assustado e sem graça
sem saber qual será a desgraça
A cada passo do sol
a cada respiro do vento
avança a ameaça do tempo
que passeia indiferente a mim
Ele segue impassível e atroz
aproximando meu grito e meu fim
Querido ou repelido
incerto e absoluto
papeis definidos
no meu absurdo

Quem deixou-me a boca silente
e quem proibiu-me dizer o que sou
Impeliu-me às sombras
a viver de
murmúrios
lamento e
fadiga
E quando a ilusão reaparece
e uns poucos desejos renascem
logo me são arrancados
todos me são proibidos
A verdade é sempre mais dura
e a realidade às vezes cruel

Se há esperança
não se manifesta
Se ainda espera
não se faz presente
Sem um canto e
em total desencanto
se apaga a chama final
Asfixiada e largada
jogada
Abandonada 
à própria extinção
Novembro 2019