sábado, 27 de abril de 2019

Muito além


Por Jânsen Leiros Jr.

Há quem me
queira bem
e há quem me
deseja o melhor
São muitos e
quase todos
Uma alegria para mim
Há também os que me
querem menor
ou pelo menos
distante
São poucos porém
Quase nada
Não chegam a me
causar tristeza

Dos primeiros a cobrança
     ação
     foco
     resultado
Desprezo pelo suor
                      empenho
                      devoção
Creem circunstância
como consequência
porque feitos e não feitos
perfeitos ou não
determinam o que há
e o que não
Ideia de poder no homem
um mito de super-homem

Ao passar dos anos
no correr da vida
raízes se aprofundam
relações se ampliam
Compromissos nos limitam
afetos nos conduzem
Quem é exclusivo de si
ou realiza somente
o que quer
e quanto mais doação
menos de nós
Sonhos próprios se
tornam nossos
egos são rompidos
Satisfação maior
vive longe do umbigo

Aos que me
querem o bem
estou bem
Comigo ou sem mim
e quanto menos em mim
a alegria se renova
em servir
Enquanto cuido de alguns
Alguém cuida de mim
Completo se faz meu
sentido de existir
ao viver pleno e feliz
muito além
da imagem no espelho
Abril 2019

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Permanente


Por Jânsen Leiros Jr.

Pode se chamar saudade
a falta do que se tem
                      não se teve
                      ainda não?

Prefiro chamar
de ausência
uma não presença
ao alcance das mãos
pertinho dos olhos
longe do coração

Se você presente
me faz ausente
sinto saudades
de você aqui
vivaz
ardente
Permanente
apenas
tal certeza
Não posso
Não devo
Não quero
não ter você
só para mim
Novembro 1983

terça-feira, 23 de abril de 2019

Repulsiva


Por Jânsen Leiros Jr.

- Cheirosa
Que aroma
Sempre agradável
Acolhedora
Proximidade

- Fedendo
Que nojo
Tão grudenta
Repulsiva
Afastamento

Duas verdades
Absolutas
duas origens
afetivas
Uma só realidade
relativa
Na primeira
carinho e
boa vontade
Na segunda
vontade de passar
longe

Se em uma se expressa
o bem querer
na outra é flagrante
seu não querer
Ambiente abusivo
confrontante
desgastante
Se uma expressa
gentileza frugal
A outra
ojeriza visceral

Ninguém é obrigado
a nada ou sequer
a coisa alguma
Tão livre para
não agradar
quanto à vontade
para se mandar
Se insiste
persiste
a quem se engana
Um incômodo
veneno para alma
inoculando na veia
a relação
Debilitada que fica
moribunda assiste
inevitável desfecho
Da tragédia
nada resta
sequer a ponte
sobre o abismo
da má vontade
cultivada
Abril 2019

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Meus riscos


Por Jânsen Leiros Jr.

Urge o tempo
um sopro de vento
um raio
O que querem de mim
ou que possam querer
que seja hoje
que seja agora
Meu mundo
percebo
em breve se acaba

Meus dias
esperam a senha
a saúde goteja
seu fio
Minha história
escreve seu fim
Qual o transcurso
do ocaso
ou quem define
meu caso?

Tudo que soube
num instante se perde
e o que pretendia
num mesmo ato se vai
Emoção e sapiência
que num lapso
se esvai
Qual será o instinto
da mente
ou mentem pra mim
meu destino?

Meus esmeros
meus empenhos
meus desejos
e medos
Todo profundo da alma
no fundo descansa
e caminho sabendo
meus riscos
Um final que
por certo me ronda
mas que aguardo
correndo e voando
Não irei por pavor
me entregar
e se for pra partir
terão que aqui
me buscar
Abril 2019

Se importa a você


Por Jânsen Leiros Jr.

Se você não sabe
não acredita
sua opinião importa sim
ainda importa
E por isso mesmo
suas falas afagam
ou ferem
ainda ferem
É verdade que
incidências
e reincidências
enfraquecem
a importância e
a ferida
Mas são sentidas
e ainda são.
Se o desejo é
que não sejam
em breve não serão
Mas se o querer
é prender minha atenção
nem precisa
A tem plena e exclusiva
ainda a tem
Pelo amor que dedico
e ainda o dedico
um pedido faço
e ainda me empenho
em fazer
Se importa a você
se é que ainda
se importa
use um outro caminho
que não o caminho
do fim
Abril 2019

domingo, 14 de abril de 2019

Amor em troca dor


Por Jânsen Leiros Jr.

Quem me dera
a dor e o sofrimento
Melhor seria o sacrifício
e a morte

Preferia ser imolado
Tosquiado
ter os olhos vazados
Ainda sem culpa
ter um castigo

Suportaria um monte
sobre os ombros
A guilhotina
ao pescoço

Qualquer tortura
seria carinho
Qualquer maltrato
um afago

se em troca
por um instante
que fosse
ao seu lado
eu pudesse me
sentir amado
Fevereiro 1992