sábado, 1 de novembro de 2025

Pensa calado

 

Por Jânsen Leiros Jr.

É só para ver

Olhar sem

poder querer

Ter perto e

não poder tocar

 

A mim só cabe

admirar

Pensar sem

me revelar

sonhar sem

me declarar

 

Não me canso

de imaginar

e isso já

não basta

E nem sei

bem por quê

 

Foi o sorriso

foi o jeito

foram os olhos

É o pacote

embrulhado

pra presente

 

que não abro

não posso

Nem é meu direito

Com muito menos

eu vivo

e por muito menos

se morre

 

Mão pra trás

Lambe com a testa

Engole o choro

Pensa calado

 

Sentimento tolhido

desejo coado

mulher proibida

aceitação cumprida

 

Minha quase

missão impossível

Outubro 2025


Cê senta

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Cê senta e chora

Sessenta e nada

de lugar algum

à coisa alguma

Bem podia ser o fim

Quase foi

mas breve será

Bem mais perto agora

 

Cê avalia

se analisa

e percebe que se foram

todos como vento

todos quase em vão

E se vão

Nada nas mãos

nada no nome

ou nada que conforte

Décadas perdidas

em tentativas e erros

Muitos

 

Não há razões

nem celebrações

senão apenas inquietações

O que não foi

o que já não é

o que tentei

mas jamais

tornará a ser

 

Melhor é o silêncio

o eco

o vazio

o nada

A certeza tranquila

da derrota final

 

Amor em falta

sorriso apagado

sentimento aplacado

 

E seguimos assim

desejando de morte

lamentando a sorte

sem nada a comemorar

Outubro 2025


terça-feira, 22 de abril de 2025

Insuportável Suporte

Por Jânsen Leiros Jr.

Como acabou

o que nunca existiu?

Em que ofendeu

livrar-se do que

jamais desejou?

 

Vai

Sai

Some

Morre

E agora que

fui

sai

sumi

morri

se aborrece?

Será que queria

sem querer

será que dizia

por dizer

 

Como suspeitar o paradoxo?

Como distinguir incoerência?

Porque se ficasse

humilhava

se tentasse

mordia

se buscasse

fugia

e se tocasse

matava

 

Agora que fui

quer que volte

agora que soltei

quer que pegue

agora que saltei

quer que espere

agora que voei

quer que eu caia

Já que fui e

ainda sou

Insuportável!

Suporte

a ausência

que tanto

quis querer

Abril 2025

Apegada


 Por Jânsen Leiros Jr.

Eu pensava

ter sumido

acreditava

ultrapassada

esquecida

abandonada

 

Eu jurava

ter vencido

confiava

superada

esvaziada

enterrada

 

Iludido ou

enganado

imbecil ou

idiota

otimista ou

mentiroso

sonhador

inveterado

 

Não voltou

pois nunca foi

nem assombrou

pois não morreu

Apegada

não partiu

resoluta

se firmou

 

Ela vem

sem eu chamar

senta

sem eu convidar

toma lugar

em minha cama

me abraça

sem eu pedir

 

Solidão é

conhecida

amizade de

longa data

Fingiu

abandonar-me

Mas vingou-se

persistindo

Não me larga

não me deixa

pega a deixa

Vaza

Abril 2025

Arranca-me daqui

Por Jânsen Leiros Jr.

Todos os dias

meus últimos dias

uma coisa

peço a Deus

entre duas

 

Arrancar-me daqui

vivo

ou levar-me de vez

morto

Mas que não

me castigue

deixando-me aqui

 

Já não há

forças para resistir

nem desejo

para existir

Fazia está a

forca para

se desistir

mas a covardia

não me deixa agir

ou a esperança

que disfarçada

a resistência

 

A verdade

é uma realidade

algoz

uma sanha

atroz

A vontade de sumir

é tão grande

quanto o desejo fugir

 

De todo jeito

não há

como se doar

naquilo que

não se tem

O destilar do veneno

nosso de cada dia

é entrega última

de quem faz

o que pode

e dá o que tem

 

Só fico porque

não posso

e persisto porque

não tenho

É rua ou cova

e a nudez me conforta

 

Minha vergonha

meu espinho

minha dor

Meu apagar diário

pouco a pouco

até o fim

Abril 2025

quinta-feira, 6 de março de 2025

Corrosão

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Seca

a voz que um dia chamou

agora murmura

sem nome sem tom

 

Os olhos passam

não veem não ficam

o toque pesa

            desliza

            escapa

 

O tempo arrasta

corrói

até que o que era

já não seja

e o que ficou

não importe

 

As palavras descascam

finas frágeis

desbotam no ar

e nem ecoam

 

O corpo perto

distante demais

presente ausente

nada em tudo

 

O dia repete

a noite insiste

mas nada aquece

tudo partiu

 

O não dito

preenche o espaço

mais que o dito

mais que o grito

 

E no fim

nem ele há

apenas sobras

do que já se foi

Março 2025

Falta querida

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Amo e

por isso sangro

Esse afeto me rasga

na pele e na alma

Sei bem

por olhos frios

que não passo de

sombra breve

Angústia insuportável

 

Teu desprezo é ventania

    tempestade e

    furacão

Que me apagam

chamas

que nem deixam cinzas

e nem sobra nada

 

Sei que sou falta querida

ausência curtida

sumiço sonhado

foto perdida

 

Por isso esse amor

me arrasa

me arrasta

      adoece

      dilacera

 

Se um dia viver pesar

pesará o abismo erguido

É provável que o amor

sob escombros

doído

empoeirado

por lá prefira ficar

Março 2025

Se passa se vai

Por Jânsen Leiros Jr.

Cheguei ao fim do poço

Batida seca

já quase sem dor

Não há ar

não há luz

Não A

nem B

 

O tempo não passa

e se passa

   se vai

Se foi

Fiquei

Ao menos o que

restou de mim

 

Se socorro vier

que se apresse

E vindo traga luz

Para que me assistam

aos poucos

às pressas

sumir

Março 2025