sábado, 29 de outubro de 2016

Cruzadas


É sempre dia


Por Jânsen Leiros Jr.
Não havia esperança

Não restaram súplicas

Se pedidos escondidos

eram mudos

Inconscientes e desprovidos

da pretensão de atendidos

Já era tarde

 

Não passava pela mente

qualquer lembrança

nem surgia na alma

qualquer vontade

Só a entrega à mesmice

do descaso e o descuido

Desistência

Já vivia o meu ocaso

 

Era um dia assim

e outro igual

Nada novo

Só a promessa

de tudo ser igual

a tudo que sempre foi

A garantia de se ter

sempre todo dia

o mesmo desamor

Para qualquer coisa

estava tarde

 

Mas numa tarde

quando muito tarde

como sol da manhã

cintilou o olhar

Novos sons

novos brilhos

novas cores

Muitas falas

que ouvidas

repetidas

 

Ventavam de lábios

Caprichosos

envolventes

e admiráveis

Não se notou

o tempo

não se contaram

as horas

Já nem era assim

tão tarde

E o relógio até

retrocedeu

A agenda travou

 

O coração pulou

de susto e

reviveu no tranco

Enxergou-se a vida

pela janela

daquela alma

Redescobriu-se prazer

na rotina a cumprir

Renovados desejos

remoçados sentidos

nunca é tarde

para realizar

o que negara sonhar

Quem se importa

com a tarde?

É sempre dia

enquanto a noite

não chegar

Outubro 2016

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Atalhos só atrasam


Por Jânsen Leiros Jr.

Como nunca antes

como tudo ontem

quase sempre inerte

explodiu enfim

Como pode um

esquecido e velho

renovado e bom

reviver da morte

pra viver seu fim?

 

Sempre calculei

sumir

sem chegar a ver

partir

sem sequer sentir

chorar

por perder o riso

morrer

por querer viver

Mas o renovo surgiu

De certo errou

de tempo e de espaço

ou acertou em cheio

sem saber em quê

 

Ambos ocupados

e reflexivos

ambos num susto

sacudidos

Não se sabe a razão

do fato

só conheço a emoção

do afeto

que não pequena

nem menor

é maior do que

aparenta

 

Camuflada

por oportuna

repensada

por flagrantes

desconsertos e descaminhos

ameaça

Escondida no retrato

cheira forte

à podridão

Melhor é se entregar

e de quebra descansar

Porque vontades minhas

por Vontade d’Ele

bem melhor

é a rendição

Porque atalhos

só atrasam

parecem curtos mas

são todos longos

 

No caminho

apressado

por inquietas

passadas

meu passeio

azedou

Há que se aprender

a esperança

espero até que

aprendam todos

E espero que

aprenda eu

Suplico

aprendamos nós

Outubro 2016