quarta-feira, 17 de abril de 2024

Sem palavras

Por Jânsen Leiros Jr.

Talvez me faltem

palavras

Talvez me façam

favores

Calar é mais que

seguro

silencio é ato

prudente

 

Melhor pensar

não falar?

Por que morrer

pela boca?

Maior serviço

se faz

quem preserva

seus dentes

 

Mas se calar

eu implodo

se me omitir

me desprezo

Se não gritar

eu explodo

por não falar

eu me dano

 

Ô medida sem régua

ô vazio sem fim

Entre o louco

e o sábio

entre ousado

e covarde

Por um fio

não caio

por um laço

me atiro

 

Falo ou calo?

Esqueço ou descrevo?

Nem sei mais

o que é que

desejo

 

Sumir talvez

daqui e de vez

largando agora

abandonada e

esquecida

minha pena

sempre amiga

Que pena!

Janeiro 1996


Gota d'água

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Pasto verde

desbotado

Um sonho amarelo

queimado

Sem chuva ou

regador

Muitas cinzas

Pouca cor

 

Não demos frutos

nem mesmo folhas

Não demos sombra

ou mesmo flores

 

Nossa vida seca

minha vida errante

nossa gota d'água

Janeiro 1994


Sensações remoçadas

 
Por Jânsen Leiros Jr.

Um olá

um olhar

e bom dia

Um aroma

um frescor

e o encanto

Um presságio

e um quê

de bem-vindo

 

Uma espera

interesse

um disfarce

e um receio

Susto e timidez

Um convite

um fulgor

e alegria

Caminhadas e

descobertas

experiência e

juventude

e um abismo

que se foi

 

Ameaçadora

despedida

e a saudade

antecipada

Um vazio

declarado

e a verdade

revelada

Flagrado

e nominado

bem-querer

 

O prazer ativado

ocupado em cuidados

Emoção renovada

traduzida em carinho

Sensações remoçadas

e anseio acolhido

Tristeza apagada

e solidão aplacada

Abril 2004


sábado, 13 de abril de 2024

O melhor amor


 Por Jânsen Leiros Jr.

Melhor que um

novo amor

é o mesmo amor

renovado

a cada manhã

 

Melhor que beijar

novos lábios

é beijar

os de sempre

como se fosse

a primeira vez

Janeiro 2001

Ecosabedoria popular



Longe de mim


Chora chuva

Por Jânsen Leiros Jr.

A chuva rega a terra

            molha as ruas

            lava a alma

 

Refresca o corpo

esfria a cabeça

e abranda a ira

 

Chuva renova

as forças

e disfarça

as lágrimas

 

Chove sempre

nos momentos

que mais preciso

 

Será que chora

o céu comigo

ao me ver chorar?

Setembro 2005


Hão de viver


Por Jânsen Leiros Jr.

Razão

Porção

Canção

Mundão

 

Razão pra viver

Porção de comer

Canção pra assobiar

Mundão pra correr

 

Pra cada qual

uma ação

Pra cada uma

emoção

 

A questão:

Finalmente entender

que não viemos aqui

Apenas sobreviver

Outubro 1991


Último gosto


Por Jânsen Leiros Jr.

O que aconteceu

que já não soubesse?

Qual desfecho

já não pressentisse?

 

Não me era óbvio

o fim?

Não me estava claro

afinal?

 

Por razões

impostas a si

condenada e banida

foice à paixão

 

Morte ao amor

que sufocado

e calado

por asfixia letal

 

Assassinato sem corpo

e tumba vazia

Lápide caída e

memória perdida

 

Apressada e silente

condenação

de previdente e sumária

execução

 

Partiu-se do peito

um sonho abatido

ferida escondida

sentimento carpido

 

Último suspiro de dor

último verso com gosto

Último dedo de prosa

último poema de Agosto

Agosto 1986




Por Jânsen Leiros Jr.

Família

          Clube

                  Povo

                         Solidão

 

Elas em festas

                    Eles se foram

 

Cada um com outro

                           Cada qual consigo

                                                    e eu

Outubro 1992