terça-feira, 15 de março de 2022

Nem de graça

Por Jânsen Leiros Jr.

Há graça no mundo?

Há a graça de um mundo

sem graça

Há risos e alguma alegria

mas há tanto

mais desgraças

quanto desventuras

e trapaças

A graça de graça

livre e acolhedora

a graça incansável

bastante e desimpedida

a graça que liberta

de dentro para fora

essa no mundo não há

Nunca houve

 

A graça que

recebe e aos poucos

transforma

que incentiva

alegra e

encoraja

a graça sem pressão

ou mera imposição

essa não se conhece

não interessa

ninguém quer

Nem de graça

E sério

isso não tem 

a menor graça

Março 2022

sábado, 12 de março de 2022

REviraVOLTA

Por Jânsen Leiros Jr.

Quando menos se espera

renova-se a esperança

Quando menos se confia

me toma a confiança

Quanto menos pretendo

me assaltam pretensões

e quanto maior o medo

mais certa coragem

 

É reviravolta

é mais que volta e meia

marcha à ré

luta pela vida

O que desperta

a vontade e

o que acorda meus pulsos?

É a respiração que

se reforça

ou os ares que

se renovam

 

Quisera não fosse

um sonho

e talvez não seja mesmo

Porque muitos

por um

todos os gestos se

traduzem

Não há tanto

a investir

muito menos

a se perder

E um só realizado

sustenta todos os demais

 

Agora é cedo para afirmar

mais ainda para apostar

Mas se quem não arrisca

não petisca

quem não se atira

não belisca

E para além de tudo

O que preciso é morder

Porque se pedindo

não me escutam

ou se aguardando

nunca chega

garanto meu pedaço

desejado

ainda que tomando

a dentadas

Março 2022

sexta-feira, 11 de março de 2022

Marcas gritam

Por Jânsen Leiros Jr.

O tempo caminha

no espelho à minha frente

Minhas marcas gritam

o tanto

e seus sulcos revelam

o quanto

Desconheço quem não

carregue as suas

Há marcas na pele

por pequenos arranhões

e há cicatrizes na alma

por teimosas insistências

Só eu acreditei no

Impossível

 

Há marcas de feridas

que ainda sangram

e sangue que se acumula

por descaso

São mais idas que vindas

muito mais “vai” que “vem”

mais lágrimas que sorrisos

mais partidas e “adeus”

O vazio que sobra

não é menos que mais

uma marca

Um eco no peito

que se diverte com a dor

É que as marcas do tempo

ensinam a rir

até mesmo do horror

 

Aprendi a conviver

com as marcas

e talvez nem vivas sem elas

Quem sou?

Pergunte às marcas

elas me entalham

e me forjam

golpe a golpe

mas depois de moído

me devolvem ao espelho

Março 2022

sábado, 5 de março de 2022

Abandono é terror

Por Jânsen Leiros Jr.

Abandono

Solidão imposta

e castigo cruel

Se involuntário

desimportância

Se pretendido

vilania

Abandono é

bofetada

é agressão

é bater até sangrar

abandono é

assassinato doloso

que desperta intenção

de morrer

 

Como um adeus

que não cessa

despedida infinita

abandono é

punição sem fim

mão e contramão

de uma só dor

Há quem abandone

esse lugar

há quem se abandone

nele

há quem lute

para se livrar

e há quem já não

consiga reagir

Abandonados estamos

a qualquer desfecho

Abandonados somos

para buscá-los sempre

 

Abandono é desamor

é alguém dizendo

- tenha a decência

de morrer

sumir

sem jamais deixar

sair de perto

- vai mas fica

Porque a graça

do abandono

é rir-se da afronta

Abandono é

sofrimento jogado

na cara

Lição perpétua

de quem pensa ensinar

a quem imagina ter

que aprender

Pedagogia do horror

Abandono é terror

Março 2022