domingo, 8 de maio de 2022

Há filho de mãe

                                                                                                                               Por Jânsen Leiros Jr.

A cada filho

parido

nasce

uma mãe

Mesmo que já

tenha outros

para cada filho

uma mãe

 

Há filho de

mãe solteira

e filho de

mãe de carreira

Há filho de

Mãe póstuma

e filho de

mãe vívida

Há filho de

mãe nova

e filho de

mãe vivida

Há filho de

mãe esquecida

mas esse já é

filho da outra

Há filho de

Mãe que é uma só

e há filho de

múltiplas mães

 

Há filho de

mãe poderosa

e filho de

mãe harmoniosa

Há filho de

mãe briguenta

e filho de

mãe que já desistiu

Há filho de

mãe que implica

e filho de

mãe que acerta

no alvo

Há filho de

mãe que grita

como há filho de

mãe que já

nem pode falar

Há filho de

mãe quituteira

ou assim como eu

que sou filho

de sogra

 

Há filho de

mãe que se entrega

e filho de

mãe que se deixa levar

Há filho de

mãe amorosa

e filho de

controladora

Há filho de

mãe rigorosa

e filho de

mãe abusiva

Há filho de

mãe vaidosa

e filho de

mãe sem cuidado

Há filho de

mãe que é estrela

assim como há

filho das trevas

 

Há filho de

mãe por perto

e filho de

mãe ao longe

Há filho de

mãe pai

como há filho de

mãe avó

Há filho de

mãe raçuda

e filho de

mãe colorida

Há filho de

mãe que já não lembra

E filho de

mãe inesquecível

 

Há filho de

mãe que é santa

e há filho de

Mãe que nem tanto

Assim como

há filho de

mãe diurna

e filho de

mãe soturna

Há filho de

mãe que passeia

demais

e filho de

mãe que já nem

anda mais

Há filhos pelados

há filhos mesclados

há filhos peludos

E todos esses têm mãe

 

Não há quem

não tenha sido

filho de que mãe

tenha tido

Todos somos

Ou fomos

filhos um dia

e filhos seremos

para sempre

Eu lembro muito

da minha que hoje

seria e não é

E que você não

se esqueça

da sua

sendo ou não sendo 

seu dia

Maio 2022

sábado, 30 de abril de 2022

Poesia amiga

Por Jânsen Leiros Jr.

Solidão mata

Sinto seu punhal

Cada vez mais

perto do peito

avançando

implacável

Um castigo perpétuo

inclemente

e definitivo

 

- É bom estar só

- Você fala com a casa cheia

Porque solidão raiz

apaga a alma

antes mesmo do

fechar de olhos

Morte abusiva

e sem pressa

 

Desculpem se o

assunto recorre

Desculpem se

desconhecem por que

É que sofro assim

sinto assim

e me dói assim

Essa realidade inquieta

Ninguém tem

nada com isso

eu sei

mas me permitam

o desabafo

Intempestivo

impertinente

e deslocado

 

Escorrem lágrimas

pelo papel

Poesia escrita

sem tinta ou correções

e eu falo imerso nela

crescente à minha volta

Letras

palavras e frases

voando ao meu redor

Poesia amiga

Fiel companhia

maior parceria

Julgando melhor

nem estou tão só

Abril 2022

terça-feira, 26 de abril de 2022

Amanhã eu nem sei

Por Jânsen Leiros Jr.

Eu procrastino

tu me enrolas

nós empurramos

com a barriga

Eu deixo para depois

você para amanhã

e nós não faremos

jamais

 

A vida vai rolando

adiada

e o que importa

para um dia seguinte

O instante

passa do ponto

o momento

se perde no tempo

e a oportunidade

fica sempre para trás

 

E quando

a preguiça se acaba

o receio se vai

e os interesses

se equilibram

quase sempre

e para sempre

é tarde demais

Os filhos cresceram

a companhia partiu

os amigos se foram

e os pais já não são

 

Depois e

para sempre depois

os rios secaram

o sol se escondeu

o navio zarpou

e o avião decolou

 

A vida só é vida

e para sempre o será

hoje

E o hoje só se vive

agora

Se adiar a vida

é perigosa armadilha

postergá-la

é enganosa ilusão

 

Se der

e somente se der

amanhã corremos

ainda mais longe

caminhamos

ainda mais léguas

dormimos

outras tantas horas

e gritamos

muito mais forte

E se depois

ainda existirmos

abraçamos mais gente

beijamos mais rostos

e seguimos intensos

 

E se chegar

o amanhã

e se for para ser

sofreremos a dor

choraremos as perdas

e sentiremos calor

Cada cor para

a hora que for

 

Porque hoje

eu já sei o que é

mas amanhã

eu nem sei se será

Abril 2022

 

domingo, 17 de abril de 2022

Liberdade à vista

Por Jânsen Leiros Jr.

É passagem

É saída

É resgate

É vida

 

É liberdade à vista

é esperança de paz

é renovo pra alma

é mais que demais

 

É criança que brinca

é infância que volta

é verdade que surge

e alegria que brota

 

É Cristo ressurreto

é vigência da graça

é morte vencida

é Páscoa de novo

 

Por gratidão aceito

pela fé compreendo

pelo amor sou movido

Sua paixão reconheço

 

Não foi por

ovo de coelho

mas por sangue

de Cordeiro

Abril 2022

terça-feira, 15 de março de 2022

Nem de graça

Por Jânsen Leiros Jr.

Há graça no mundo?

Há a graça de um mundo

sem graça

Há risos e alguma alegria

mas há tanto

mais desgraças

quanto desventuras

e trapaças

A graça de graça

livre e acolhedora

a graça incansável

bastante e desimpedida

a graça que liberta

de dentro para fora

essa no mundo não há

Nunca houve

 

A graça que

recebe e aos poucos

transforma

que incentiva

alegra e

encoraja

a graça sem pressão

ou mera imposição

essa não se conhece

não interessa

ninguém quer

Nem de graça

E sério

isso não tem 

a menor graça

Março 2022

sábado, 12 de março de 2022

REviraVOLTA

Por Jânsen Leiros Jr.

Quando menos se espera

renova-se a esperança

Quando menos se confia

me toma a confiança

Quanto menos pretendo

me assaltam pretensões

e quanto maior o medo

mais certa coragem

 

É reviravolta

é mais que volta e meia

marcha à ré

luta pela vida

O que desperta

a vontade e

o que acorda meus pulsos?

É a respiração que

se reforça

ou os ares que

se renovam

 

Quisera não fosse

um sonho

e talvez não seja mesmo

Porque muitos

por um

todos os gestos se

traduzem

Não há tanto

a investir

muito menos

a se perder

E um só realizado

sustenta todos os demais

 

Agora é cedo para afirmar

mais ainda para apostar

Mas se quem não arrisca

não petisca

quem não se atira

não belisca

E para além de tudo

O que preciso é morder

Porque se pedindo

não me escutam

ou se aguardando

nunca chega

garanto meu pedaço

desejado

ainda que tomando

a dentadas

Março 2022

sexta-feira, 11 de março de 2022

Marcas gritam

Por Jânsen Leiros Jr.

O tempo caminha

no espelho à minha frente

Minhas marcas gritam

o tanto

e seus sulcos revelam

o quanto

Desconheço quem não

carregue as suas

Há marcas na pele

por pequenos arranhões

e há cicatrizes na alma

por teimosas insistências

Só eu acreditei no

Impossível

 

Há marcas de feridas

que ainda sangram

e sangue que se acumula

por descaso

São mais idas que vindas

muito mais “vai” que “vem”

mais lágrimas que sorrisos

mais partidas e “adeus”

O vazio que sobra

não é menos que mais

uma marca

Um eco no peito

que se diverte com a dor

É que as marcas do tempo

ensinam a rir

até mesmo do horror

 

Aprendi a conviver

com as marcas

e talvez nem vivas sem elas

Quem sou?

Pergunte às marcas

elas me entalham

e me forjam

golpe a golpe

mas depois de moído

me devolvem ao espelho

Março 2022

sábado, 5 de março de 2022

Abandono é terror

Por Jânsen Leiros Jr.

Abandono

Solidão imposta

e castigo cruel

Se involuntário

desimportância

Se pretendido

vilania

Abandono é

bofetada

é agressão

é bater até sangrar

abandono é

assassinato doloso

que desperta intenção

de morrer

 

Como um adeus

que não cessa

despedida infinita

abandono é

punição sem fim

mão e contramão

de uma só dor

Há quem abandone

esse lugar

há quem se abandone

nele

há quem lute

para se livrar

e há quem já não

consiga reagir

Abandonados estamos

a qualquer desfecho

Abandonados somos

para buscá-los sempre

 

Abandono é desamor

é alguém dizendo

- tenha a decência

de morrer

sumir

sem jamais deixar

sair de perto

- vai mas fica

Porque a graça

do abandono

é rir-se da afronta

Abandono é

sofrimento jogado

na cara

Lição perpétua

de quem pensa ensinar

a quem imagina ter

que aprender

Pedagogia do horror

Abandono é terror

Março 2022