domingo, 20 de setembro de 2020

Ninguém dá confiança

 

por Jânsen Leiros Jr.

Solidão no limite

Sonhei com congestionamento

comercio de Madureira

caminhada no Saara

ônibus cheio em fim de tarde

Tudo sempre detestável

já provocando saudades

Emoções à mingua

Sai pelas ruas querendo briga

gritando insultos

esperando o troco

mas de retorno o eco

Dia seguinte

peito aberto

bíceps à mostra

torcia por trocar sopapos

Tentativa insana

por mísero contato

Penso que me tomam por senil

e se poupam da gaguice

 

Transposto o limite

nomeio estranhos que passam

adivinho pensamentos

suponho projetos

e lhes conto os passos

Alerta piscando

me aborreço com o rádio

discuto com o noticiário

e grito ameaças

aos vizinhos da frente

Ninguém dá confiança

sequer se assustam

Não há que me acredite

ninguém a me ouvir

Setembro 2020


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Me enterro amanhã

Por Jânsen Leiros Jr.

É zero absoluto

Sem positivo

ou negativo

Sem variação

Fim das possibilidades

Daqui em diante

nada

Fim de “talvez”

de “quem sabe”

e “algum dia”

Nada mais se verá

Ninguém jamais saberá

Só perguntas

sem respostas

A voz não mais se ouvirá

Não há ninguém

mais à porta

Enquanto há vida

parece que ela mesma

poder esperar

e então o desperdício

Mas quando olhos

se fecham de vez

a poesia se apaga

o canto se cala

o espírito se vai

e a alma adormece

Realidade que subverte

verdade

Nem é preciso morrer

para se estar morto

Pois eu morro hoje

comecei ontem

Me enterro amanhã

semana que vem

ou daqui a décadas

Nada importa

é só um corpo que fica

Setembro 2020