quinta-feira, 22 de junho de 2023

Crueldade à queima-roupa

Por Jânsen Leiros Jr.

O tempo passa

nossa jornada avança

o relógio não volta

e a vida se vai

Se esvai pelos

dedos das mãos

Por entre escolhas

atrás de equívocos

após confusões

 

Quanta existência

perdida

quanto desejo

tolhido

Um desamor

fabricado

por cada dor

requentada

Desperdício de

tudo

num dia a dia de

nada

 

Afinal

se os dias se vão

e em vão

devoramos as horas

Segundos

martelam

a parede

e minutos

aumentam a tensão

Hoje

bem menos

que ontem

mas depois

bem pior

que amanhã

 

Economizo lágrimas

disfarçando o pavor

escondendo a tristeza

dissimulando terror

Toda noite um silêncio

por vingança

e na cama um vazio

por castigo

Toda falta que

agora faz

um dia sei que

não fará

Adoraria que

o momento

fosse já

O peito ficando oco

a voz fazendo eco

pensamento deixando

louco

realidade vazando

meu fim

 

Meu choro supõe

confissão

e a alma

suplica emoção

Quem me dera

lembrasse de mim

e que por mim

insurgisse enfim

Mas tanto fez

que por hora

tanto faz

Pois o tanto

que já fiz

ninguém jamais

fará

 

Devaneando valentia

fingida

simulo ousadia

incontida

Liberto a vontade

trancada

gritando com coragem

tardia

Derrube este muro

Se lance no escuro

Refaça o futuro

e apague o passado

Aproveita o presente

que nos resta

pra sempre

 

De medo

estanco

Acordado receio

seu não

No temor da afronta

por exaustivos confrontos

me cubro teimoso

incitando meu corpo

Sucumbo à ilusão

 

Te tocando em

meus sonhos

carinhando em delírios

lamentando a mentira

que encaro ao ocaso

É o resto da sobra

é da xepa do amor

 

É o que temos

e é o que sou

E é o que somos

pelo tudo que tens

Porque ninguém dá

aquilo que não tem

Nem por pena

ou por bondade

Se o abandono é

tudo o que pode

é bem o que não

posso conter

Na verdade

é pura crueldade

e à queima-roupa

Junho 2023