quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Mundo maltrapilho


Por Jânsen Leiros Jr.
Na ansiedade
pela vantagem
ganância e
solidão

Querendo
melhor forma
maior lucro
nem se nota
o que se tem
Não há valor
no que é nosso
se ninguém reconhecer

Jamais a grama
do vizinho
foi tão verde
jamais um abraço
genuíno tão
difícil
Interesses são a mola
conveniências a lama
incertezas a cama
E sexo fácil
a qualquer custo

Todos são tão bons
que não há
lugar pro mal
neste mundo
Então por que
tão pior?

Porque não somos
o que mostramos
no teatro mal versado
no cenário tosco
desse mundo maltrapilho

Junho 2017

Pra ficar contente


Por Jânsen Leiros Jr.
O que pode ser melhor
que o acaso
melhor que um tropeço
que nos faz enxergar?

O que pode ser melhor
que um sussurro
um aparente infortúnio
que nos leva a pensar

Porque rotinas amargas
e caminho sabidos
nos mexem e nos levam
para um mesmo lugar

Mas se o novo devolve alegria
também nos permite renovo
O inesperado refaz um caminho
e a jornada que me leva à morte

Porque quando mais do mesmo
sempre do mesmo provou
conflitante diário flagrante
que ao menos parece cessar

A vantagem de quem é velho
mesmo empolgado com o novo
é que não espera o impensável
sonha só com o diferente

O que por muito
ou quase nada
é o bastante pra trazer sorrisos
O preciso pra ficar contente

Mais importante que a novidade
que dia a dia envelhece
é o prazer da liberdade extrema
e o fim das minhas prisões

Outubro 2017

sábado, 10 de junho de 2017

Olhar no espelho


Por Jânsen Leiros Jr.
Quem pode
confiar em si mesmo
prever atitudes
antever reações
Quem pode
planejar o escape
calcular os estragos
ponderar consequências
Onde há risco
não se arrisca

Quem armou contra si
armadilhas
arapucas espalhou
no caminho
Quando não as construímos
certamente alimentamos
Alimentam-me a fome
ampliando-me a penúria
Cúmplice do engano e
parceira do meu erro
Concedem-me os motivos
sem jamais a razão
Negam-me o mínimo
do que é próprio
e por direito

Sem direito e por paixão
Por impulso e emoção
se conquista a derrota
em aparente vitória
Temporário mel
de eterno e amargo fel
Conseguir o pretendido
nunca foi tão deprimente
Aceitar a doação
de presumida devoção
ainda que de graça
jamais foi tão sem graça

Deu-se a desgraça

Mas é por graça e só por ela
que dói menos olhar
no espelho
É pela graça e só por ela
que me entendo
e me perdoo
Se me julgo e me condeno
me absolve
e se me livra de meu jugo
me refaço
Confiando não em mim
nem mesmo em meu juízo
meu delito esquecido
meu pecado perdoado
minha mente renovada
meu contexto transformado

Junho 2017

terça-feira, 6 de junho de 2017

Menos Jamais


Por Jânsen Leiros Jr.
Por que menos?
Não há como dessentir
o que já foi sentido
Revelado
O que se experimenta
reações provoca
Não se reduz
o que já foi
a um pode ser

Pra frente talvez
reencontros se neguem
Se evitados
talvez
Então quem sabe
distante dos olhos
bem longe de tudo
mesmo por perto
inevitáveis afins
se apaguem
sensações gravadas
Reduzidas memórias?

O que eu sei
do pouco que descobri
é que chamado pelos olhos
e requerido pelos gestos
fiz-me presente
ao meu presente
Minhas razões irracionais

Menos nem sei ser
Todo o ser
é tudo o que sei dar
Dar-me todo
é tudo que sei fazer
Não faço por imposto
nem ao mesmo por desconto
Nada supera o prazer de
por querer fazer
Jamais por menos
ainda que jamais ao menos
se reviva o vivido e
vívido prazer de ser

Dezembro 2016

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Logo repenso


Por Jânsen Leiros Jr.
Tantas à mão
e eu à míngua
Tantas ofertas
e eu com fome
Tudo correto
e eu errado
Todos fingindo
e eu não menos

Como é possível
sonhar tão alto
tão mais distante
que o chão
Como é possível
sonhar?

Logo repenso
a vida e refaço caminhos
Amei em vão?
De certo que não
Mas desconfio
querer além do que devo
tentar mais do que posso

Talvez sonhando acordado
talvez dormindo sem sono
Não é convicto
que rejeito
não é por vontade
que resisto

Me preservo só por temor
fora o pavor de seguir assim
Um amor jamais
chegado a mim

Novembro 2016

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Indigno fim


Por Jânsen Leiros Jr.
Indigno me sinto
indignado fico
comigo mesmo e
com muitos
Comigo mesmo e
só comigo
Em mim mesmo
me vejo só
Indigno

Não era pra ser assim
não pelo efeito
apenas pelo motivo
Pela razão não quero
pela emoção é bom
Pelo espirito é morte
e se é morte 
eu fujo

Sou indigno por tudo
e diante de tantos
mas um bem pior 
que a indignação
A sensação de colocar-me
nas mãos de quem 
nem zela por mim

Indigno quero esconder-me
Infiel eu confesso
Melhor a verdade comovente
meu medo razão do prudente
Pavor do fim antes de si

Tanto a fazer e a cair
talvez por decência e compaixão
me tirem o tempo
e as palavras de vento
Talvez se esgote o limite testado
e se encerre a paciência
e a condescendência
Indigno fim
por indignação
Fevereiro 2016

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A menina e a pedra


Por Jânsen Leiros Jr.

É o traço mais extremo

do ímpeto

o medo mais intenso de

menina

Menina que não olha

o espelho

mulher que não sabe

que já é

Se enxerga menos

que tudo

não percebe a força

que tem

Se encanta com fumaça

e se perde pela relva

Tudo é mais do que menos

nada é tanto como tudo

Um pai na infância

outro pai na juventude

Um avô emprestado

e um homem assustado

Um velho companheiro

e um martelo de guerreiro

Um de arroz

e um de feijão

outro branco algodão

Mas se chega à solução

vem da força da explosão

Quem sabe o peso do elemento

quem sabe a conta dos anos

a libertem da menina

que ficou pra trás?

É hora de viver bem mais

é hora de olhar pra frente

De descer do muro

e saltar pra vida

Porque feliz ainda dá pra ser

se não quiser fugaz sorriso

se não quiser voltar atrás

Fevereiro 2017