quinta-feira, 6 de março de 2025

Corrosão

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Seca

a voz que um dia chamou

agora murmura

sem nome sem tom

 

Os olhos passam

não veem não ficam

o toque pesa

            desliza

            escapa

 

O tempo arrasta

corrói

até que o que era

já não seja

e o que ficou

não importe

 

As palavras descascam

finas frágeis

desbotam no ar

e nem ecoam

 

O corpo perto

distante demais

presente ausente

nada em tudo

 

O dia repete

a noite insiste

mas nada aquece

tudo partiu

 

O não dito

preenche o espaço

mais que o dito

mais que o grito

 

E no fim

nem ele há

apenas sobras

do que já se foi

Março 2025

Falta querida

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Amo e

por isso sangro

Esse afeto me rasga

na pele e na alma

Sei bem

por olhos frios

que não passo de

sombra breve

Angústia insuportável

 

Teu desprezo é ventania

    tempestade e

    furacão

Que me apagam

chamas

que nem deixam cinzas

e nem sobra nada

 

Sei que sou falta querida

ausência curtida

sumiço sonhado

foto perdida

 

Por isso esse amor

me arrasa

me arrasta

      adoece

      dilacera

 

Se um dia viver pesar

pesará o abismo erguido

É provável que o amor

sob escombros

doído

empoeirado

por lá prefira ficar

Março 2025

Se passa se vai

Por Jânsen Leiros Jr.

Cheguei ao fim do poço

Batida seca

já quase sem dor

Não há ar

não há luz

Não A

nem B

 

O tempo não passa

e se passa

   se vai

Se foi

Fiquei

Ao menos o que

restou de mim

 

Se socorro vier

que se apresse

E vindo traga luz

Para que me assistam

aos poucos

às pressas

sumir

Março 2025
 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Sem palavras

Por Jânsen Leiros Jr.

Talvez me faltem

palavras

Talvez me façam

favores

Calar é mais que

seguro

silencio é ato

prudente

 

Melhor pensar

não falar?

Por que morrer

pela boca?

Maior serviço

se faz

quem preserva

seus dentes

 

Mas se calar

eu implodo

se me omitir

me desprezo

Se não gritar

eu explodo

por não falar

eu me dano

 

Ô medida sem régua

ô vazio sem fim

Entre o louco

e o sábio

entre ousado

e covarde

Por um fio

não caio

por um laço

me atiro

 

Falo ou calo?

Esqueço ou descrevo?

Nem sei mais

o que é que

desejo

 

Sumir talvez

daqui e de vez

largando agora

abandonada e

esquecida

minha pena

sempre amiga

Que pena!

Janeiro 1996


Gota d'água

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Pasto verde

desbotado

Um sonho amarelo

queimado

Sem chuva ou

regador

Muitas cinzas

Pouca cor

 

Não demos frutos

nem mesmo folhas

Não demos sombra

ou mesmo flores

 

Nossa vida seca

minha vida errante

nossa gota d'água

Janeiro 1994